A Quaresma é um tempo especial em que a Igreja nos convida à preparação para a maior solenidade do Ano Litúrgico: a Páscoa de Jesus, sua ressurreição, a vitória da vida sobre a morte, da graça sobre o pecado.
Cristo jejuou e rezou durante quarenta dias antes de enfrentar as tentações do demônio no deserto e nos ensinou a vencê-lo pela oração e pelo jejum. Da mesma forma, a Igreja quer nos ensinar como vencer as tentações de hoje. Daí surgiu a Quaresma, que tem início na Quarta-Feira de Cinzas, quando os sacerdotes colocam um pouquinho de cinzas sobre a cabeça dos fiéis na Missa. O significado desse gesto é lembrar que um dia a vida termina neste mundo, que “voltamos ao pó”.
Por causa do pecado, Deus disse a Adão: “És pó, e ao pó tu hás de tornar” (Gênesis 2, 19). A Igreja recorda que estamos de passagem por este mundo, e que a vida de verdade começa depois da morte. As cinzas nos lembram que após a morte prestaremos contas de todos os nossos atos, e de todas as graças que recebemos de Deus nesta vida, a começar da própria vida, do tempo, da saúde, dos bens etc.
Esses quarenta dias são um tempo forte de meditação, oração, jejum, de fazer caridade. São práticas que a Igreja chama de “remédios contra o pecado”. Trata-se de um tempo para se meditar profundamente a Bíblia, especialmente os Evangelhos, a vida dos santos, viver um pouco de mortificação (cortar um doce, deixar a bebida, cigarro, passeios, churrascos, a TV, alguma diversão etc.) com a intenção de fortalecer o espírito para que possa vencer as fraquezas da carne.
Sabemos como devemos viver, mas não temos força espiritual para isso. A mortificação fortalece o espírito. Não é a valorização do sacrifício de maneira masoquista, mas pelo fruto de conversão e fortalecimento espiritual que ele traz. Quaresma é um tempo de “rever a vida” e abandonar o pecado (orgulho, vaidade, arrogância, prepotência, ganância, pornografia, sexismo, gula, ira, inveja, preguiça, mentira etc.). Enfim, viver o que Jesus recomendou: “Vigiai e orai, porque o espírito é forte, mas a carne é fraca”.
Se engana, entretanto, quem pensa que Quaresma é tempo de tristeza. Ao contrário, já que a alma fica mais leve e feliz. O prazer é satisfação do corpo, mas a alegria é a satisfação da alma. Santo Agostinho dizia que “os teus pecados são a tua tristeza; deixa que a santidade seja a tua alegria”. A Quaresma nos traz um tempo de paz, alegria e felicidade, porque chegamos mais perto de Deus.
Uma Confissão bem feita é o meio mais eficaz para se livrar do pecado. Jesus instituiu a Confissão em sua primeira aparição aos discípulos, no mesmo domingo da Ressurreição (Jo 20,22), dizendo: “A quem vocês perdoarem os pecados, os pecados estarão perdoados”. Não há graça maior do que ser perdoado por Deus, estar livre das misérias da alma e estar em paz com a consciência. Especialmente aqueles que há muito não se confessam, têm na Quaresma uma graça especial de Deus para se aproximar do Confessor e entregar a Cristo, nele representado, as suas misérias.
A Santa Missa também deve ser observada, porque é a prática de piedade mais importante da fé católica. Devemos participar, se possível, todos os dias da Quaresma. Na Missa estamos diante do Calvário. É a atualização do Sacrifício único de Jesus. A Igreja nos lembra que todas as vezes que participamos bem da Missa, “torna-se presente a nossa redenção”. Assim, podemos viver bem a Quaresma e participar bem da Páscoa do Senhor, enriquecendo a nossa alma com as suas graças extraordinárias.
. Por: Prof. Felipe Aquino, teólogo e apresentador dos programas ‘Escola da Fé’ e ‘Trocando idéias’, na TV Canção Nova (www.cancaonova.com)